Algumas situações vivenciadas ao longo de nossas vidas, como as rupturas de laços afetivos e as mudanças na dinâmica familiar daí decorrentes, produzem abalos emocionais para todos os envolvidos. Muitas vezes não dispomos de palavras para traduzi-los, o que é sentido tanto pelos adultos como pelas crianças.
Nenhum roteiro ou manual parental nos concederá as palavras mais “adequadas”, capazes de nos poupar do desconforto da dissolução de uma relação. O silêncio, no entanto, às vezes conserva a ideia de que a separação além de dolorosa é algo vergonhoso, o que encobre e inflama o sofrimento já experimentado.
É interessante que os pais tentem pôr em palavras o que muitas vezes é sentido por eles e percebido pelos filhos apenas como um estado de angústia e depressividade, sem a desejável nomeação dos afetos. E que as crianças se sintam autorizadas a falar sobre o assunto, o que é mediado pelas palavras que os pais emprestam para que possam conversar, perguntar e expressar seus sentimentos.
Françoise Dolto (1989), em “Quando os Pais se separam” ressalta, ainda, que é “preciso dizer-lhes a verdade, mas “convém deixar às crianças suas fantasias e maneiras de reagir”. A fantasia, devemos lembrar, é um recurso psíquico, uma espécie de ficção que contamos para nós mesmos, e que funciona como um véu diante de algo que em sua crueza ainda é difícil de assimilar.
Julia Torres
Referência de Leitura
Dolto, F. (1989). Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Zahar